quarta-feira, 20 de junho de 2012
Hoje quero escrever sobre novelas. Quando Renascer ia ao ar pela rede Globo, lembro-me de que fiz matéria sobre Literatura e Televisão, propondo que as novelas de grande sucesso tinham sempre um pé na literatura e nas obras clássicas. Renascer tinha a ver com muitas exelentes obras, como O rei Arthur, Fausto, ambos da literatura estrangeira; São Bernardo, O tempo e o vento, dentre as nacionais; sem contar que as personagens moviam-se num espaço hierárquico de nobreza, com todos os seus recursos temporais e espaciais, incluindo a figura do herói e da coragem, razão pela qual a história assemelhou-se à novela de época. Naquele momento, a protagonista, Adriana Esteves, que deveria contacenar como figura central, com Antônio Fagundes, malgrado belo rostinho, não convenceu no papel e nem sabia como desenrolar aquela encrenca que se formava ao redor dela, quer na vida imaginária da novela, quer na vida real diante da crítica ácida que a ameaçava. Passado bom tempo, eis que a atriz vai ressurgindo em bons papéis no teatro, no cinema e na TV, agora, sempre dando muito bem conta de desenrolar esses papéis, multiplicando-os pela competência e pelo talento. Saía-se bem tanto na comédia, como em tragédias. Hoje, ela se supera no papel de Carminha, na novela das 21h, horário nobre da televisão. Carminha é uma das mais complexas personagens novelescas até hoje criada. Não se sabe sua origem, sabe-se apenas que ela teve, na infância, contato com o lixão; não se conhece a identidade dessa mulher, quem foram seus pais, qual escola cursou e até qual nível; e por que tem ela o rostinho, as atitudes, o jeito de se vestir de quem parece ter nascido no seio da mais alta burguesia e, ao mesmo tempo, ao trair despudoradamente o trouxa do marido, ao fingir, enganar, ludibriar, assume ela o comportamento da mais hipócrita e vulgar messalina de todos os tempos. Em Carminha, fica difícil perder de vista as duras contradições do ser humano, principalmente quando demasiadamente humanos. Há momentos em que ela é a própria anti-heroína, a mulher sem nenhum caráter; depois, quase convence, quando se mostra sensata e prudente diante da atazanada família do marido. Pensou-se que, talvez, ela fosse uma psicopata, mas os psicopatas não se emocionam, enquanto ela, particularmente se emociona ao ver ou ao falar do filho, Jorginho; em algumas cenas, ela não só se emociona, como chora, irrita-se, perde o controle. Com poder incrível para dissimular, ele lembra de perto a famosa Capitu de Machado de Assis. Age como gazela no meio social da burguesia, porém quando acompanhada de seu colega do lixão, de seu amante de todas as horas, ela vira uma despudorada, ralé, chula, impiedosa, cruel, extasiando-se de prazer não só porque stá com o homem de sua vida, mas porque está fazendo mal a quem lhe faz e lhe fez todo o bem. Crueldade deves ser uma das faces da doença que acometeu Carminha, e que ainda deve ser estudada pela ciência e pela psicanálise.
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